Apaixonados pela Olaria e aconselhados por conhecedores da região de Leiria, fomos visitar Bajouca uma aldeia onde o barro é moldado desde tempos ancestrais. A região é rica em vegetação, abundando as matas de pinheiros e eucaliptos.
Logo à entrada da aldeia deparámo-nos com uma placa que indicava Andrezes e Olaria. Aceitámos a sugestão e seguimos em busca da famosa louça que tem na sua origem uma argila clara e particularmente fina.
Uns metros à frente uma casa com a identificação “Olaria Silva“, indicava-nos que teríamos chegado ao destino. Parámos e dirigimo-nos à oficina onde encontrámos uma senhora, desde logo muito sorridente, que nos convidou a entrar e ver os produtos expostos. Tínhamos acabado de conhecer a Dª. Natália, nora do fundador da olaria e esposa do actual proprietário Sr. Rui da Silva.
Perguntamos-lhe se podemos espreitar como se fabricavam as peças e tirar fotografias. Com um enorme sorriso, conduziu-nos a uma sala onde o sogro, o Sr. Manuel da Silva, moldava um alguidar. A ajudá-lo tinha a esposa Dª Georgina, que se encarregava de cortar o barro necessário para cada peça e de a levar quando pronta para a zona de secagem.
O Sr. Manuel conta-nos então a sua história, que já é longa neste ofício de dar forma ao barro. A arte passou de geração em geração e desde que começou a amassar o barro com a idade de 8 anos, não mais o largou. “Já lá vão cerca de 60 anos!”. Com simpatia e também alguma tristeza, deixa escapar o desabafo que tantas vezes vamos ouvindo destes mestres artesãos – ” Os novos é que já não querem saber nada disto. Ou se cresce aqui no ofício ou nada feito. Agora querem é computadores…”
Enquanto fala, a roda gira e as mãos de artista modelam o pedaço de barro que a Dª Georgina cortou e ali colocou atempadamente. Depois de centrado na roda, as mãos exercem pressão no centro para formar a abertura da peça; pela expressão do Sr. Manuel deve requerer alguma força! Ao lado da roda, há um pedaço de madeira para ajustar a grossura da peça e uma taça com água em que o Sr. Manuel vai mergulhando as mãos. A pouco e pouco, o cilindro de barro dá lugar a um recipiente outrora tão comum nas cozinhas dos nossos avós… E só as mãos do oleiro parecem já conhecer de cor a pressão certa e a posição dos dedos que formam os sulcos do alguidar que vemos agora!
Finalizada a peça, a Dª Georgina leva-a para o armazém onde vai ficar a secar. Apanha sol e seca. “Leva uma semana p’raí, e só depois vai ao forno. É muito tempo.”
Agradecemos ao Sr. Manuel e regressamos ao armazém, onde se multiplicam as peças dispostas por formato e tamanho. Entre elas encontramos muitas que fazem parte do nosso imaginário infantil: os alguidares onde a nossa avó temperava a carne para os enchidos, as assadeiras em que o cabrito ía ao forno de lenha, as bilhas para a água, as saladeiras e tantas outras… Apetecia-nos trazer uma peça de cada!
A cor vai variando. Umas mais claras, outras mais escuras e outras ainda verdes e amarelas. Estas últimas são típicas aqui de Bajouca e a pintura é feita mergulhando inicialmente a peça na cor dominante, deixando secar e voltar a mergulhar depois, ponta a ponta na segunda cor. “Não é feito com pincel!”, esclarece a Dª Natália que entretanto se juntou a nós para nos explicar as restantes fases do fabrico. Revela-nos ainda que as cores alteram muito com a cozedura no forno.
Por entre as peças vemos algumas que se afastam do padrão utilitário tradicional. São peças decorativas que visam apenas “responder à procura que se foi sentindo e muitas vezes são feitas com moldes”. Lá fora abre um molde e mostra-nos como são feitas estas peças.
“Tudo foi evoluindo”, diz-nos a Dª Natália. “No princípio, só para preparar o barro era um trabalhão”. Era pisado com pés descalços e não havia máquinas como hoje para preparar a pasta. E a cozedura foi outra das coisas que foi muito simplificada. Antes os fornos eram a lenha e tinha que se estar permanentemente a colocar mais para manter as temperaturas certas. “Agora, com os fornos eléctricos, o processo é muito mais rápido e as peças, ao contrário do que muitos dizem, ganham resistência”.
Regressamos ao espaço de exposição onde o “tradicional” nos espera. Uma assadeira, uma saladeira, um… Por hoje chega.
Lá fora, está a ser preparada uma encomenda para Moçambique. A Dª Natália confessa-nos sorrindo com uma grande franqueza, que não têm que se queixar. Assim o desejamos!… Porque nos receberam à boa maneira portuguesa, e porque possuem os “saberes de sempre” com que esperamos continuar a ser brindados por muitos anos.
Se passar na região, vá até Bajouca, procure a placa de “Andrezes” e siga até encontrar a Olaria Silva. Quando lá chegar, não se esqueça de transmitir os nossos cumprimentos à família.
Localização:
OLARIA SILVA
Rua dos Andrezes, nº 31
Bajouca- Leiria