Bisalhães, Mondrões (Vila Real)

A loiça preta de Bisalhães teve a sua origem há muitos séculos atrás quando as oficinas de oleiros se estendiam por várias freguesias e constituíam um centro produtor de certa importância.

Chegado à oficina, o barro é estendido ao sol para que seque, sendo preparado do seguinte modo: piam (esmagam) o barro dentro de um pico com o auxílio do pio; crivam-no para dentro de uma gamela; misturam-no com água e amassam-no com as mãos. Utilizam a roda baixa e cozem em forno descoberto, o qual abafam no final da cozedura de modo a criar uma atmosfera redutora.

Produzem dois tipos de loiça: a «loiça churra», ou seja, a loiça utilitária que praticamente não é decorada, e a «loiça fina», loiça que de um modo geral tem funções mais decorativas do que utilitárias e que é decorada.

Vendiam a loiça no mercado de Vila Real e pelos povos e vilas das redondezas, transportando a loiça dentro de cestos e acamada com fetos. Hoje vendem principalmente à porta de casa e nos postos de venda que possuem à entrada de Vila Real e anualmente na feira de S. Pedro.

Barro Negro de Bisalhães
Barro Negro de Bisalhães – Fotografia de Henrique Matos

Vilar de Nantes (Chaves, Vila Real)

A região de Chaves era um importante centro produtor de loiça preta, existindo o seu fabrico documentado desde o séc. XVIII.

Quando o barro chegava à oficina era guardado a um canto, na barreira. Aí mesmo, com o auxílio da enxada ou sachola, partia-se em fragmentos. Seguidamente misturava-se-lhe água continuando a mexê-lo com a enxada. Esta pasta mole era depois colocada sobre a pedra de pisar ou amassar o barro sendo energicamente batida, com o auxílio da foice. Depois do barro bem batido partia-se em talhadas, as quais eram guardadas a um canto da pedra de pisar.

Usam o torno e cozem em forno de duas câmaras superiormente descoberto, o qual e abafado no final da cozedura de modo a criar uma atmosfera redutora para que as peças fiquem pretas.

Produziam peças destinadas principalmente à conservação, preparação, cozedura e serviço de alimentos.

A venda da loiça fazia-se por esses montes fora, em percursos mais ou menos extensos. Transportavam-na metida em sacos, bem acamada, no dorso dos burros. Era costume em percursos menores as mulheres transportarem a loiça à cabeça, acamada em grandes cestos ou simplesmente metidas umas dentro das outras.

Selhariz (Chaves, Vila Real)

No séc. XVIII produzia-se loiça nas freguesias de Oura, Vidago e Selhariz. Estas localidades devem considerar-se como pertencentes ao conjunto olárico de Chaves/Vilar de Nantes, tal com o são Samaiões e S. Pedro de Agostém.

O fabrico de loiça renasceu em Selhariz, no segundo quartel do século XX, devido ao facto de para aí ter ido trabalhar o oleiro de Vilar de Nantes, Silvino da Silva.

O modo de preparar o barro e as técnicas utilizadas no fabrico e cozedura da loiça eram em tudo idênticos às do centro olárico de Vilar de Nantes. A única alteração que Silvino da Silva introduziu foi ter passado a demolhar o barro num tanque e não na barreira.

Silvino da Silva fazia cântaros, alguidares, tanhas, cafeteiras, caçoilas, garrafões, potas, púcaros, canudos para as toupeiras, denotando-se nas suas peças uma elevada qualidade. Mas, para além dessa produção necessária a satisfazer as necessidades de uma população rural, deleitava-se também a criar modelos que lhe eram ditados pela sua fértil imaginação.

A loiça vendia-a pelas redondezas, com o auxílio de sua mulher. Com a sua morte terminou em Selhariz o fabrico de loiça.

Destes três locais, hoje apenas se encontram a laborar Bisalhães e Vilar de Nantes.

Nota: 

Textos extraídos e adaptados do catálogo: As mais antigas colecções de olaria portuguesa. Norte. Barcelos: Museu de Olaria; Vila Real: Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real, 2012.