Construído num dos mais idílicos cenários do território  português, o Palácio do Buçaco transporta-nos de imediato para as histórias de réis e rainhas que tanto nos encantaram na nossa infância.

Hotel Palace Bussaco
Palace Bussaco

A sua origem vai longe e remonta ao séc XIX, altura em que D. Maria Pia quis  construir no Buçaco um Palácio Real, que competisse com o Palácio da Pena. Abandonado este sonho, é o próprio Ministro das Obras Públicas que avança para a construção de um hotel, o “palácio  do Povo”. Decorria o ano de 1888 quando o projecto do génio criativo Luigi Manini foi aprovado dando lugar a uma arquitectura deslumbrante. As obras, iniciadas ainda nesse ano haveriam de terminar em 1899. O edifício em estilo neomanuelino, corpo principal do hotel, terá sido inspirado em obras como o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, cujos perfis podemos ver também aqui, lavrados em pedra de Ançã.

Janela e terraço sobre floreira
A obra de Luigi Manini no seu esplendor

A perfeição das formas, rendilhados e colunas esculpidas revelam uma perfeição que não deixa dúvidas quanto ao gabarito dos artistas envolvidos neste projecto.

os rendilhados
A perfeição é notória em cada detalhe
Arcadas
Detalhe das colunas da arcadaria

No interior, grandes mestres deixaram igualmente a sua marca, quer nos painéis de azulejos de Jorge Colaço onde a Batalha do Bussaco, os Lusíadas, os Autos de Gil Vicente e a Guerra Peninsular ganham vida, quer nas pinturas de João Vaz evocando a epopeia de Camões, ou de António Ramalho e de Carlos Reis.

Painéis de azulejos sob a arcadaria
Painéis de azulejos evocando a epopeia dos descobrimentos

Seis anos passados sobre a edificação do hotel, constrói-se um novo edifício também em estilo neomanuelino onde é clara a lógica Beaux Arts: o “anexo real” hoje conhecido como Casa dos Brasões.

Casa do Brasões do arquitecto Norte Junior
Casa dos Brasões da autoria de Norte Junior

O nome deve-se à ornamentação da janela que coroa a fachada sudoeste, revelando esta uma imensa e fascinante riqueza decorativa. Destinado a albergar a família real durante as suas visitas, este novo bloco é assinado por outro grande nome da arquitectura, Manuel Joaquim Norte Júnior, que foi igualmente o autor da ala que faz a ligação à Casa do Cedro e da remodelação da Casa dos Embrechados ou Convento de Santa Cruz.

Convento de Santa Cruz
Convento de Santa Cruz

Do convento erigido pelos Carmelitas Descalços, extinto em 1834 com a abolição das ordens religiosas, perdeu-se parte das dependências que desapareceram com a construção do Hotel. O que restou, de arquitectura religiosa maneirista apresenta uma fachada com três arcos, sendo o central mais elevado; por cima, é visível a data 1628.

A ornamentar a fachada, incrustações de pequenas pedras. No interior, a cortiça reveste o tecto e as portas do claustro. A marca é a sobriedade embora a igreja guarde interessantes retábulos e esculturas.

Entrada do Convento de Santa Cruz
Entrada do Convento de Santa Cruz

No conjunto, ainda que os edifícios tenham sido construídos em épocas diferentes e com autorias distintas, o resultado é harmonioso e único do ponto de vista arquitectónico. Este é um local mágico onde o tempo está a mais… Aqui, tudo desperta os sentidos do visitante. O Palácio, o Convento e por fim, a natureza no seu expoente máximo de exuberância.

Rendilhado
Para além do magnífico rendilhado, a Mata

A Mata do Buçaco, criada pela comunidade monástica carmelita como espaço de contemplação e meditação, foi alvo de Bulas papais(1), uma das quais exigia aos monges a colocação de novas árvores silvestres e proibia o seu corte, sendo o mesmo penalizado com excomunhão. A floresta,  hoje considerada um dos mais valiosos patrimónios naturais do país do ponto de vista botânico, é o resultado de um trabalho de séculos ao longo dos quais se foram juntando às espécies nativas, árvores exóticas oriundas dos mais variados locais do mundo. Protegida por um muro com cerca de seis quilómetros de extensão, a Mata do Buçaco (2) é um espaço a conhecer sem pressas. Sobre esta, ficam as palavras de José Saramago na sua obra “Viagem a Portugal”:

“O viajante passeia, entregando-se sem condições, e não sabe exprimir mais do que um silencioso pasmo diante da explosão de troncos, folhas várias, hastes, musgos esponjosos, que se agarram às pedras ou sobem pelos troncos acima e quando os segue com os olhos dá com o emaranhado das ramagens altas tão densas que é difícil saber onde acaba esta e começa a aquela.
A mata do Buçaco requer as palavras todas e estando ditas elas, mostra como ficou tudo por dizer. Não se descreve a mata do Buçaco. O melhor ainda é perder-nos nela (…). Neste tempo de Janeiro incomparável quando ressumbra a humidade do ar e da terra e o único rumor é o dos passo nas folhas mortas (…).

Desfrute…Desfrute da magia da floresta, do encanto do Palácio e se possível, de uma experiência gastronómica inesquecível. No restaurante do Palace do Bussaco, junta-se a melhor cozinha aos lendários Vinhos do Bussaco…

(1)- As bulas papais encontram-se expostas à entrada das Portas de Coimbra, uma das entradas que dá acesso à Mata e Palácio do Buçaco.

(2)- A referência ao “monte bussaco” transporta-nos a um passado longínquo; no ano de 919, um documento em latim menciona o Bussaco numa doação feita ao mosteiro de Lorvão. Quanto à origem do nome “Bussaco” ou “Buçaco” como é hoje habitual chamar-se, são variadas. Deixamos-lhe aqui aquela que nos pareceu mais verosímil e que defende que “Bussaco” terá nascido do latim “Boscus Sacrum” ou “Bosci Sacrum” cujo significado é “madeira sagrada” ou “bosque sagrado”.