Historicamente ligada aos F’s do poeta Júlio Ribeiro- Farta, Fria, Fidalga e Feiticeira-, a evolução da cidade justificou a sua correcção para os actuais 5 bem mais demonstrativos das características da cidade actual. “Forte” pela sua imponência monumental, “Farta” pela riqueza que vem do vale rio Mondego, “Fria” pela proximidade da Serra da Estrela, “Fiel” pela recusa histórica de entregar a chave da cidade ao rei de Castela e “Formosa” pela sua beleza natural.
Inserida na encosta norte da Serra da Estrela a Guarda é a cidade mais alta de Portugal situando-se a uns impressionantes 1056 metros de altitude.
Fruto desta situação geográfica, o clima é marcado por invernos por vezes rigorosos apresentando em compensação um ar de uma pureza reconhecida. Provas desse facto são a construção em 1907 de um sanatório para a cura da tuberculose e classificação como “Cidade Bioclimática Ibérica” já em 2002.
À região estão ligadas três bacias hidrográficas- Mondego, Douro e Tejo-, que confluem na localidade de Vale de Estrela nos arredores da Guarda.
Vestígios encontrados e ainda hoje visíveis como é o caso da Anta de Pera do Moço, apontam para a presença humana na região, já no final do Neolítico, início do Calcolítico. Das idades do Bronze e do Ferro existem também indícios que ligam o concelho à prática da mineração e às rotas do minério.
Fundada no séc XII por D. Sancho I, a vila tinha como função a vigilância e a defesa da fronteira, papel que estará na origem do seu nome. O Castelo, construído já no início do séc. seguinte, estaria integrado numa malha de fortificações que incluía os castelos de Celorico da Beira e de Trancoso e o Castro do Jarmelo entre outros.
As lutas com o reino vizinho, primeiro Reino de Leão, depois Castela e finalmente Espanha marcaram profundamente a história da cidade e legaram um detalhe ainda hoje visível na Sé Catedral, uma gárgula com forma de “traseiro” virado para a fronteira. Tal detalhe, muito procurado pelos turistas que ali chegam, é demonstrativo do desprezo que se sentia pelos “vizinhos” mas era também um desafio aos mesmos.
Actualmente, a Guarda possui excelentes acessos rodoviários que a ligam a três eixos principais: Lisboa e Sul pela A23, Porto ou Madrid pela A25 e ainda Trás-os-Montes e Alto Douro pelo IP2. Para quem preferir as vias ferroviárias, a cidade é igualmente bem servida com ligações a todo o país e integra mesmo o principal eixo de ligação ao centro da Europa quer no transporte de passageiros, quer no de mercadorias.
A vida cultural expressa nas mais variadas manifestações artísticas espelha uma cidade onde ainda se sabe e pode desfrutar qualitativamente do tempo livre.
Embora a cidade tenha crescido muito ao longo dos últimos anos e se tenha espalhado do alto até aos vales circundantes, a preocupação com o espaço e nomeadamente os espaços verdes, é notória. Antigos e novos jardins apelam ao descanso numa esplanada ou banco de jardim.
O centro da cidade é um bonito espaço a visitar a pé e com calma. No centro histórico é visível o cuidado com a revitalização das antigas construções e o correcto enquadramento das novas. No centro, lojas de comércio disputam a atenção dos pedestres com as pastelarias que convidam ao lanche com os amigos. É tempo de retemperar forças…
Aqui, ainda há qualidade de vida e isso sente-se nas ruas desta cidade medieval que foi em tempos fruto da poesia do Rei D. Sancho I: “Ay muito me tarda / O meu amigo na Guarda”.
PONTOS A VISITAR:
Sé Catedral:
É majestosa e impõe-se no topo de uma magnífica praça ladeada de antigos edifícios com arcadas. Iniciada no séc. XII durante o reinado de D.João I, a sua construção atravessou quatro séculos, razão pela qual combina arquitectura gótica e manuelina.
Na fachada principal existe um portal de estilo manuelino com colunas torsas e arco contracurvado, onde se alberga a Virgem da Assunção. É ladeado por duas torres sineiras octogonais que ostentam dois brasões do bispo D. Pedro Vaz Gavião.
No interior, o espaço revela uma planta em cruz latina, com três naves. O arco triunfal assenta em capiteis de granito rendilhado e o fecho da abóboda é feito por uma grande pinha suspensa. A capela-mor, iluminada por três janelas de traços góticos, revela-nos um magnífico espectáculo que culmina com o imponente retábulo renascentista de João Ruão e as suas 100 figuras esculpidas em pedra de Ançã.
Igreja da Misericórdia:
É uma construção barroca na sua vertente joanina, datada da época de D. João V.
A fachada é elegante e harmoniosa. As torres sineiras que ladeiam o belíssimo frontão, são rematadas por cúpulas piramidais de base quadrangular, sobre as quais repousam 2 cruzes-catavento em ferro. Na porta principal, um arco abatido coroado por um escudo com as armas de D. João V.
O interior, com uma única nave coberta com uma abóboda de madeira é amplo e elegante. Os altares, retábulos e púlpitos são em talha barroca joanina.
Igreja de São Vicente:
Data do final do séc. XVIII
A fachada barroca é composta por duas torre sineiras entre as quais o portal é encimado pelo brasão do bispo D. Jerónimo de Carvalhal, responsável pela sua reconstrução.
Judiaria:
O bairro judaico está perfeitamente integrado no centro da cidade. As ruas estreitas são calcetadas e nas paredes e ombreiras das casas, ainda hoje são visíveis os símbolos religiosos que assinalavam a presença judaica e mostram a grande importância que esta comunidade teve na região.
Vítimas de perseguição por parte da Inquisição durante a Idade Média, os judeus acossados foram acolhidos e protegidos pela população local. Muitos chegaram do reino vizinho e aqui ficaram contribuindo para o desenvolvimento económico e social da região.
Nas regiões limítrofes é possível detectar esta mesma influência junto de outras cidades tais como Trancoso e Belmonte.