Não se conhece exatamente a data da sua origem e os primeiros documentos que lhe fazem menção parecem reportar-se ao séc. X. Sabe-se no entanto que no séc. XIII, já a vila de Trancoso assumia grande importância pela sua intensa atividade comercial. A reunião periódica de feirantes que já então se fazia no local, acabou por levar à criação da sua feira franca, decisão tomada por D. Afonso III. A importância de Trancoso viria ainda a ser reforçada com a escolha desta vila para local do casamento de D. Dinis e D. Isabel de Aragão. E foi por decisão de D. Dinis que usando a feira franca anual já existente como modelo, se instituiu uma nova feira com periodicidade mensal e duração de três dias. A vila expande-se e procede -se à ampliação das muralhas criando assim condições para mais tarde se construir a judiaria e a via que é hoje a rua da Corredoura. Trancoso foi palco de diversas lutas em que as gentes locais provaram a sua valentia ao longo de séculos. Em 1385 deu-se a Batalha de S. Marcos na qual as tropas de Castela foram corridas “a pão e laranjas”, expressão que ainda hoje é usada na região e justifica a distribuição destes alimentos às crianças na data comemorativa da vitória. Mas a função de defesa intrinsecamente ligada às origens da vila, continuou a ser evidente noutros episódios tais como a Restauração, a Guerra da Sucessão, as Invasões Francesas e mesmo na Revolução Liberal. Poucas localidades souberam conservar tão bem as caraterísticas do passado como Trancoso.
As suas muralhas, reforçadas no reinado de D. Dinis, ainda hoje rodeiam o centro histórico da cidade, como se de um casulo se tratasse. A entrada sul faz-se pelas magníficas Portas d’ El Rei que parecem convidar-nos a um passeio no tempo. Transpostas as portas, entramos na Rua da Corredoura que termina no largo da Igreja de S. Pedro, templo do Padroado Real datado do séc. XVI. A igreja erigida em estilo românico, apresenta na fachada principal o brasão com duas chaves cruzadas e na parede sul, a lápide do mausoléu do sapateiro Gonçalo Anes Bandarra, mais conhecido como o profeta Bandarra.
Sobre Bandarra, habitualmente conotado como um pobre sapateiro analfabeto, sabe-se hoje que assim não era. Segundo o estudo publicado pelo Instituto Camões, “Trovas de Bandarra”, o “profeta” era afinal um homem abastado e letrado. Correspondia-se inclusivamente “com várias pessoas do Reino”. No mesmo documento lê-se ainda que “Era um homem extraordinário, que aliava a uma memória fabulosa o talento de fazer com facilidade versos populares”. O sapateiro profeta lia a Bíblia e crê-se também que “teria conhecimento das profecias atribuídas a Santo Isidro através das Coplas do cartuxo castelhano Pedro de Frias e outros versejadores espanhóis”. Teriam elas servido de modelos às Trovas de Bandarra? A verdade é que as profecias do sapateiro rapidamente chegaram à capital e as vezes que aí se deslocou foi muito procurado “pela gente da nação”. Os cristãos-novos consideravam-no um aliado e veneravam-no. Acabou por ser julgado pela Inquisição, embora sem graves consequências e acabou por morrer em data incerta. O que não morreu foram as suas Trovas que serviram para ensinar a ler “muitos meninos da Beira”; isto apesar de o Santo Ofício ter emitido ordem para sua obra ser apresentada ao tribunal.
PONTOS A VISITAR: Judiaria: No centro histórico, que deve ser visitado a pé e com muita atenção, encontramos a judiaria. A presença da comunidade judaica em Trancoso no séc. XV sofreu um crescimento tal que a sinagoga teve mesmo que ser ampliada.
Contavam-se na altura 700 judeus a viver na vila, os quais deixaram os seus testemunhos bem impressos no património erigido. Os vestígios, na forma de marcas judaicas e cristãs-novas, concentram-se especialmente em três ruas do centro histórico: Rua da Alegria, Cavaleiros e Estrela.
Segundo a Rede de Judiarias de Portugal, as mais importantes são inscrições hebraicas e uma marca cruciforme com a letra hebraico da palavra “S’hadai”=D’us (Deus), tal como as ramificações que representam as doze tribos de Israel.
Casa do Gato Preto
De origem medieval, o edifício sofreu algumas alterações nos séculos seguintes.O nome vem-lhe de uma escultura que faz lembrar um animal, lavrada no Lintel de uma porta porta interior.
Na fachada principal outras marcas foram esculpidas e são ainda hoje visíveis, entre as quais o Leão de Judá, as Portas de Jerusalém e um homem a entrar na sinagoga segurando o kipá. Todos símbolos que não deixam dúvidas quanto ao credo de quem lá viveu.
A casa é de origem judaica e deverá ter sido moradia e local de comércio.
Castelo e muralhas:
Na sua origem, o Castelo terá sido propriedade dos Templários. Posteriormente reforçada por D. Dinis, que ali desposou a Rainha Santa Isabel, a fortaleza inclui quinze torres e quatro portas.A Torre de Menagem tem um forma piramidal truncada, configuração pouco comum, e possui uma janela árabe com arco de volta de ferradura. Supõe-se que durante o domínio árabe, a Torre teria servido para guardar o tesouro do califado.
Pelourinho de Trancoso É manuelino e foi considerado Monumento Nacional. Possui fuste facetado assente em quatro degraus e culmina com uma gaiola formada com colunelos. A esfera armilar remata o monumento.
Fontes: : http://www.redejudiariasportugal.com
http://cvc.instituto-camoes.pt/bdc/revistas/revistaicalp/bandarra.pdf